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A dialética do Arqueômetro: Papus - O Tarô dos Boêmios

Neste texto iremos analisar de forma sucinta pontos importantes do livro “O Tarô dos Boêmios”, de Papus.

Este era o nome iniciático de Gérard Anaclet Vincent Encausse  (* 1865 – 1916 +), nascido em Corunha, Espanha, porem viveu praticamente toda sua vida na França. Foi médico, escritor, ocultista, rosacruz, cabalista, maçon e um dos pais do martinismo moderno. A primeira edição do livro "O Tarô dos Boêmios" ocorreu em 1889, o autor, neste período, ainda novo, sofria forte influência dos conhecimentos ocultos judaicos, pois toda interpretação transcorre a partir dos saberes desta academia, na realidade, a maioria dos ocultistas da época estava focada nos caminhos esotéricos desta corrente de pensamento. A kaballahh ou Cabala e outros conhecimentos hebraicos ainda fascinam, pois não se pode negar que preservaram parte do conhecimento das antigas sociedades sacerdotais.

As origens do povo cigano na Europa causam as mais variadas especulações, algumas lendas dizem que são oriundos das tribos de Israel, foragidas do Egito, outros dizem que são antigos magos Caldeus, enfim, existem muitas controvérsias sobre este povo.

Os estudos genéticos e lingüísticos conduzem os cientistas às origens no continente Indiano, na região de Punjab. Não se sabe ao certo como iniciaram os primeiros ciclos migratórios para a Europa, especula-se que podem ter lutado contra a invasão mulçumana e migrado forçosamente por cercos dos exércitos inimigos ou escravizados e trazidos para regiões próximas à Europa. O que é mais aceito nos meios investigativos é que migraram da Índia, passando pelo atual Afeganistão, Irã, Armênia e Turquia, em processo longo que não se pode precisar, instalaram-se definitivamente no velho continente entre os séculos IX e X. O fato é que alguns povos, com características similares à dos ciganos ainda vivem na Índia, tem língua própria e muito semelhante à língua dos ciganos europeus, o romani, comprovando estreito parentesco com o povo de Punjabi e do Híndi ocidental.

As características genéticas confirmam as evidências lingüísticas, estudos realizados em diversos grupos étnicos correspondem perfeitamente aos dos habitantes do subcontinente indiano. É provável que tenham vindo em diversas ondas migratórias até atingirem o centro-europeu. Ficaram relacionados aos Boêmios no século XV, pois o Rei da Boêmia lhes concedeu um salvo conduto, o que facilitou a fixação na França, Roma, Suíça, Espanha, dentre outros países próximos, sendo que, as nomenclaturas, boêmio e cigano, tornaram-se praticamente sinônimo.

Este pequeno levantamento será útil ao leitor, possibilitando as análises de pontos importantes destes ensinamentos, pois Papus faz várias referências aos Boêmios ou Ciganos, afirmando que essa onda migratória partiu do Egito, o que não é impossível, pois a própria ciência desconhece os detalhes dessas migrações. As possibilidades do surgimento do Tarô ficam vinculadas a duas vertentes, ou seja, ter surgido na própria Índia ou do contato com outros povos, vindo a adquirir este conhecimento.

O ocultista deixou um legado de livros sobre variados assuntos herméticos, dentre este, um livro dedicado ao Tarô ou Tarot, visando resgatar aspectos ocultos e fundamentais na cultura dos oráculos ao retroceder em busca de suas origens.

(Tarô de Papus)

Foi bastante pragmático na análise do oráculo, utilizou o mais tradicional dos Tarôs como base deste estudo, o de Marselha, também citou as lâminas de Court de Gébelin, reconhecido como o primeiro estudioso do Tarô. Os dois tarôs utilizam o método tradicional de 78 lâminas ou cartas,  com a separação primária pautada nos 22 Arcanos Maiores e 56 Arcanos Menores.

Na primeira parte do livro procura atribuir as origens do Tarô na Europa ao povo cigano, criticando as antigas sociedades de mistérios, como a maçonaria, por terem perdido ou renegado este conhecimento. Não podemos esquecer que Papus era maçon e teve forte influência dos ciganos, pois sua mãe era espanhola e de genealogia cigana.

Afirma que "os boêmios possuem uma bíblia, bíblia que os faz viver, pois com ela predizem o futuro. E essa bíblia é motivo de perpétua diversão, pois ela lhes permite jogar". E segue: "esse jogo de cartas chamado Tarô, que os boêmios possuem, é a bíblia das bíblias, revelação original das antigas civilizações". Enfatiza que "esse jogo de cartas chamado Tarô que os boêmios possuem... é o livro de Thot Hermes Trimegisto, é o livro de Adão, é o livro da revelação original das antigas civilizações". Neste caso Papus refere-se à Tábua de Esmeralda, às placas de nefrita, ao Arqueômetro, ao instrumento sagrado que exprime a ideação divina através de um planisfério também cósmico e humano.

O Tarô certamente é a dialética da representação do planisfério divino, cósmico e humano, ou seja, uma maneira excepcional de manifestar o sagrado no plano das formas.

A escrita hebraica é muito rica nesta expressão, pois ajuda a elucidar pontos difusos de algumas representações do oráculo. As letras e a Kabbalah contém ordenações e sentidos muito fortes e bem estruturados, possibilitando uma análise consistente para o desenvolvimento lógico, fácil de expor os fatos e de adquirir conhecimentos.

Vale deixar registrado que o Arqueômetro, após estudos comparativos com a estrutura dos hebreus, apresenta uma lógica melhor distribuída em elementos quantitativos e qualitativos, talvez tenha sido esse o motivo de Saint Yves d´Alveydre, profundo estudioso de toda essa cultura do ocultismo, ter optado pelo Arqueômetro como instrumento base de seus estudos e revelações, sem deixar de enfatizar os frutíferos elementos contidos na Kabbalah. 

Depois dessas primeiras assertivas, sabendo que Papus pautou suas análises e elucidações na Cabala Hebraica, no seu alfabeto e na sua numerologia, entende-se a afirmação que o ”IOD-HE-VAU-HE é a palavra que nos indica a Unidade de vossa origem, ó franco-maçom, ó cabalistas, TARÔ, THORA, ROTA são as palavras que indicam a todos, orientais e ocidentais, a unidade de vossas necessidades e de vossas inspirações no eterno Adão-Eva, fonte de todos os nossos conhecimentos e de todas as nossas crenças”.

Calcado nestes princípios realizou a distribuição das lâminas do Tarô nas quatro letras do alfabeto hebraico, determinando qualidades e objetivos. Neste momento fica claro para o leitor que Papus quer retirar o Tarô do senso comum e colocá-lo em um plano superior, o dos antigos mistérios, inclusive alerta e enfatiza sobre essa diversidade na seguinte afirmativa: “é próprio dos estudos da verdadeira ciência oculta o poder ser livremente exposta perante todos. Semelhantes às parábolas, tão apreciadas pelos antigos, tais estudos parecem a muitos não serem senão a expressão dos vôos de uma imaginação muito ousada; por isso, nunca se deve ter medo de estar falando abertamente demais; o Verbo só atingirá aqueles que devem ser atingidos”.

Muito interessante esta afirmativa, pois não “retira” o Tarô das mãos do povo, pois sabe que pode ser um instrumento do despertar das consciências, mas enfatiza a necessidade de retornar às origens sagradas.

Assim inicia um trabalho simples e fantástico, pautando toda distribuição das cartas ou lâminas no tetragrammaton, ou nas quatro letras dos princípios divinos e inefáveis ou simplesmente  Deus. Essas letras são יהוה, IOD-HE-VAU-HE. Toma como base os 56 Arcanos Menores e posteriormente aplica a mesma regra aos Arcanos Maiores, conforme a seguir:

O mago Papus foi direto na questão, traçou uma cruz e atribuiu qualidades aos IOD HE VAU HE, onde IOD é o princípio criador, divino, masculino, HE é o princípio conservador, astral, feminino, VAU o transformador, físico, equilibrante, e o segundo HE a transição ou geração.

Todas as lâminas ou cartas do Tarô foram dispostas  nestes quatro princípios, proporcionando uma autológica, disposição visível de todas as cartas e total ênfase para os valores superlativos ou teogônicos, relativos ou cosmogônicos e positivo ou antropogônicos.

Cada uma das letras contém qualidades específicas ao princípio ao qual está vinculada, onde engenhosamente foram dispostos em uma estrutura triangular que exprime sequencialmente os mesmos princípios em níveis diferenciados como veremos a seguir:

Vejamos a distribuição dos Arcanos Menores, lembrando que isto se aplica a cada naipe, pois todos estão vinculados a estes princípios dentro dos elementos da natureza que representam, ou seja, a representação da cosmogonia no elemento fogo (paus ou bastões) não é a mesma do elemento água (ouros), trilham o mesmo caminho por vias de manifestação diferentes, ou seja, desembocam em suas vertentes. Então fica claro que, por exemplo, as cartas 1, 4, 7 e Rei estão relacionadas aos aspectos positivos, pois encontram-se dispostas no ápice dos quatro triângulos, assim como 2, 5, 8 e Dama, aos negativos, seguindo 3, 6, 9 e Cavaleiro à neutralidade e finalmente 4, 7, 10 e Valete são lâminas relacionadas à transição, conforme a seguir:

Isto se aplica também aos Arcanos Maiores,  conforme a seguir:

A regra é a mesma dos arcanos menores, o que muda é o atributo e valor de cada carta no jogo, um Arcano Maior pode indicar muitas coisas, enquanto um Arcano Menor indica, provavelmente, um caminho específico.

Ao final desta análise Papus entrecruzou os triângulos dos Arcanos Maiores e fechou uma visão esquemática geral, atribuindo valores quantitativos e qualitativo aos aspectos da Teogonia, Cosmogonia e Androgonia do oráculo, fechando com elucidações muito proveitosas para os amantes das cartas.

Refez todas as lâminas adicionando informações preciosas às imagens, revelando fortes símbolos de maneira muito especial e reveladora, pois evidenciou elementos que encontravam-se velados no Tarô de Marselha, disponibilizando muitos conhecimentos para os amantes da arte oracular.

Resumo esquemático de Papus e disposições das lâminas do Tarô dos Boêmios e suas qualidades na hierarquia oracular:

 

Texto: Orlando Júnior. Escritor, Administrador e Psicólogo, Diretor Geral da Arkamatra, Psicologia e Consultoria em RH. Formado em Administração e Psicologia, com especializações em RH e Psicologia Junguiana.

Blog: Decifrando o Arqueômetro

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